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Coleção Meu Interior

As saudades foram uma constante para todos durante este período da pandemia, e aqui não foi diferente. Não poderia enumerar quantas foram, pois são tantas que, certamente iria acabar não apontando todas elas. Mas uma das maiores saudades está sendo a saudade da minha terra, das minhas origens e raízes. Nunca havia ficado tão distante durante toda a minha vida, completando 2 anos agora em dezembro/2021. Dois anos longe de tantas coisas, meu arraial do capim mimoso, familiares, amigos, das comidas gostosas e sensações que o interior nos proporciona. Um por do sol nas montanhas, uma luz entrando no alpendre, um cheiro de pão de queijo saindo do forno, uma flor da infância, o anoitecer, as árvores que são pontos de referência, os passarinhos cantando....eu vim de lá.....sou do interior do mato, lá do cerrado.


E neste tempo, sem o meu interior - lugar, busquei o meu interior-pessoa. Me encontrei em coisas singelas, lembranças gostosas, memórias de infância, ipês com sementes aladas, e nasceu essa coleção, do encontro de interiores, interior-saudade e interior de mim.


As estampas escolhidas para essa coleção, em algum sentido, memória, momento, estão em lugares do meu interior. Algumas tem mais histórias, outras são mais sensações, e quero falar sobre elas. Vou deixar as histórias longas mais para baixo, e vou começar contando das que trazem sensações. As praças! As praças no interior eram um ponto de encontro, passeio, principalmente em cidades menores, a vida gira em volta das praças. Mercados, lojas, igrejas, lanchonetes, sorveterias, tudo fica ali por perto. E passei muitos finais de dia na praça. Lembro das cores do céu, em tons de azuis, misturadas com as luzes amarelas dos postes, em brilhos diferentes... em cores diferentes... só de lembrar já sinto o cheiro da pipoca do pipoqueiro, que estava sempre lá, não importa aonde. E dessas lembranças escolhi a estampa "Noite na praça".

Seguindo com a "Sol no alpendre", só quem sabe o que é sentar num alpendre de manhã cedinho, ou do final do dia, vai sentir o que é essa estampa. Não sei porque, mas as luzes do sol no alpendre são sempre mais bonitas, em ângulos e contrastes. E os que tem vitral na janela? São lindas as luzes do sol no alpendre.

Do alpendre, grande clássico interiorano, antigo, eu não podia deixar de fora os granilites. Hoje esta modernoso, hype, mas todo mundo tem uma avó ou bisavó que tinha granilite em casa. (Quem não tinha granilite, com certeza tinha aqueles pisos de caquinhos, famosos, de cerâmica quebrados, em vermelho, e as vezes um pouco de preto e uns amarelos.) E sim, minha Bisa tinha granilite. "Casa da Bisa".

Entre luzes do por do sol, alpendres, praças, e porque não granilites, em todo os cantos se têm os cantos da "Passarada". Os pássaros são a trilha sonora das pequenas cidades do interior. Eles fazem composição, música e cantoria. E encerro a apresentação dos nomes e sensações e passo para, um pouco mais longas, histórias.

Hortênsias do Sítio


No interior sempre tem alguém que tem algum pedaço de algum lugar. Sítio, chácara, rancho, um lugar para onde todos vão, se reúnem, familiares, amigos, um monte de gente para fazer um pouco de nada e muito de tudo, juntos. E meu avô tem um sítio, que é seu grande orgulho e paixão. Se eu fosse contar toda a história do sítio, seria um "senta que lá vem lonnnnga história", mas em um resumo breve, é dessas histórias que todo brasileiro gosta, de reviravoltas, superação, pitadas de casos de família e um final, que ainda não acabou, feliz. Maaaas, voltando no assunto, quando eu era criança, os finais de semana eram regados a sítio e diversão no mato. São tantas histórias que eu precisaria escrever só sobre isso, mas o que quero contar é que meus avós tinham hortênsias, LINDAS, azuis em todos os tons. As hortênsias do sítio ficavam do lado de dentro da cerca da casa, e fazia todo o volteado da cerca, cheia de flores enormes! Como eram lindas aquelas hortênsias. E foi por causa dessas hortênsias que começou toda essa saga de coleção do "Meu interior". Eu vi uma estampa de hortênsia! Essa estampa de hortênsias e, perdi completamente a linha. Voltei na minha infância, lembrei do meu avô regando, todo orgulhoso, as hortênsias floridas na cerca de madeira. Foi tão bom sentir tudo isso com uma estampa, que não tive opção: comprei a estampa de hortênsias! Não qualquer hortênsias, são as "Hortênsias do sítio" da minha infância.



Marta


Marta é a minha mãe, e eu poderia falar horas sobre ela. Eu falo horas sobre ela.


As vezes, hora ou outra, recebo algum elogio de clientes/amigos pelo meu trabalho, frases como: que talento, ou um: que bom gosto! E sempre, todas as vezes que isso acontece, eu respondo em pensamento: - isso é porque você não conhece a minha mãe!! Minha mãe é uma artista! Tudo que ela põe a mão fica bonito, o fazer manual está presente e vivo na vida dela. E consequentemente, ela é minha inspiração, e mesmo sem querer, minha maior incentivadora.

Minha mãe não queria que eu fizesse cadernos. No dia da minha primeira feira enviei uma foto para ela, e ela chorou, pois eu estava em uma barraquinha. Minha mãe queria que eu fosse outra coisa, profissões formais e normais... mas:

- não tinha como, Mãe, você pintava painéis de tecidos gigantes no chão, e me deixava ao seu lado brincando com um monte de tintas! Já te perguntei sobre como você tinha coragem de deixar sua caixa de artes nas minhas mãos de crianças! Você me disse que era de boa, mas só de pensar na situação hoje, uma criança cheia de dedinhos, brincando com minhas ferramentas e materiais, me da um siricutico!


Neste caminho da encadernação já me disseram que eu tenho um dom, mas não é. O fazer manual esta presente na minha vida, através da minha mãe, desde que eu era uma pequena Lola (se é que algum dia fui pequena, rs). Desde criança minha mãe me deixava brincar com tintas, pincéis, linhas, agulhas... e eu a ajudava nos fazeres manuais dela. Ela pintava painéis enormes, pintava paredes, móveis, madeiras... minha mãe não era artista de telas, ela pintava tudo que tinha vontade!

E uma das coisas mais marcantes eram os bichinhos dos painéis. Ela era professora, e fazia painéis enormes para decorar as salas de aula. E fazia bichinhos! Eles eram lindos, lúdicos e fofos... eram maquiados com maquiagem mesmo, de humano, com bochechas rosadas e nariz de coração.

E por isso dedico essa estampa de bichinhos fofos para minha mãe, por tantas lembranças de afeto e carinho, de artes vividas, e de todo incentivo ao fazer manual. Se hoje estou aqui, com certeza é por causa da minha mãe.




Dedico essa coleção a todos que estiveram comigo em tantos momentos, minha mãe, familiares, amigos, a todas histórias vivas e vividas no interior de São Paulo. Á meus amigos de Franca, que compartilharam vida comigo, e em especial a Bonsa, Lais Pires, que não está mais aqui, e que minha volta ao interior não será mais a mesma sem ela, os melhores abraços do interior, mas ela estará sempre viva em todos que a conheceram! Histórias vivas.


E você, qual o seu interior?


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